Joi, o Cavaleiro Errante

quinta-feira, setembro 10, 2009

Das Cinzas

Sonhei que você me consolava
Enquanto comia meu coração
Com classe (mas sem talheres).
Eu te admirava angustiado
Enquanto, sempre doce, me salgava
Os sentidos e os sentimentos
Na raíz de tudo o que era eu
E eu desconhecia;
As lágrimas abriam crateras no assoalho.
Havia sangue por todo lado.
Suas palavras sutilmente duras
Me cortavam cada vez que as pronunciava.
Meu sangue jorrava sem parar,
Formando enormes poças rubras
A transbordar das crateras.
Eu não aceitava
Nem conseguia assimilar.
Tanto em tão pouco.
Mas era preferível sangrar na tua presença
A deixar-te ir
E enlouquecer no desespero rouco da sua falta,
(como experimentaria – e eu o sabia – momentos mais tarde)
Uma despedida de um verdadeiro tolo-cego,
Um covarde.
Caminhava pela cozinha ensopada,
Fundindo meus pés descalços
Às poças rubras.
Ao redor,
As parede já todas manchadas
De sangue-petróleo
- na textura e no sabor -,
Tamanha a violência.
Dentro de mim,
Hemorragias, Tumores e Mortes.
Por fim,
Enquanto o vento seco dançava com seus cachos
Desprovidos de baby-lizz,
Entregavas meu corpo
Já fatiado em porções de filés
De tamanhos perfeitos
Para serem devorados pelos urubus
E outras criaturas ainda mais austeras e sombrias e perversas
Daquele deserto nefasto do ressentimento.

Louco a louco...
EU
Ressurgia,
Phoenix amargurado
Pronto para amar
Armado até os caninos
E retornava às cidades
Montado num dragão
Cujo corpo
Fundia-se a chamas
De cores surrealmente negras
(este dragão se chamava
Ansiedade Perdição,
e atendia por um e por outro,
embora eu nunca o envocasse verbalmente).
Nos auges,
Eu luzia não-lúcido
E mordia outros lábios
E cortava outros braços
Abraçado a mim mesmo
- e só -
Dilacerava tudo o que via
Ignorava quaisquer limites
Mas conquistava aliados
E os seguia.
Deixava, por vezes, abandonado,
Um dos nomes do Dragão,
Que diminuía
E me esclarecia
A visão.
Tive, pois, que tomar a decisão!
Fez-se assim, então:
Da noite-pro-dia
Do mar seco pro sertão que chuvia
Da ventania que varria a solidão,
A companhia.
Finalmente,
Eu morria.
Mas somente para renascer uma outra vez de novo,
Das Cinzas.



Quando acordei,
Vi que o tempo havia passado
Eu estava mudado
E tudo acontecera de fato.

E agradeci
Por nada a ninguém
Numa espécie de mantra
Que vai e vem
Vai
Vem
Vai
Vem
Vai
Vem
Vai
Vem
Vai
Vem
Vai
Vem
Vai
Vem
Vai
Vem
Vai
Vem...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...
...............paz...............







*Os fatos narrados acima são de cabo-a-rabo verídicos.

9 comentários:

  1. ainda que não fosse verídico quanta verdade teria...e no momento não posso falar mais nada, só sentir...

    ResponderExcluir
  2. A propósito, nada covarde, apenas a vida de um "cavaleiro errante"

    ResponderExcluir
  3. Começou queimando, meiou queimado, renasceu, findou em paz... é a vida natural dum coração

    ResponderExcluir
  4. achei cortante, achei carne, carnívoro... foda!

    afinal de contas, o sofrimento só serve mesmo pra isso? ou tem uma outra serventia?

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. a serventia de nos fazer humanos, e quando isso acontece, o objetivo se cumpre senão de que outro modo a gente se sentiria tão intensamente assim? Bem, talvez quando se nasce...mas tb é uma outra forma de amor, paixão, sei lá...

    ResponderExcluir
  7. Pig, você manda muito! gosto muito do teu blog todo.

    ResponderExcluir
  8. Perfeita a descrição.
    A dor é tanta ou tão próxima,
    é dessa forma que dilacera o coração!

    ResponderExcluir